Como tornar a tecnologia divertida de novo?

Sonhamos por anos em ter algum instrumento dopaminérgico prático, que coubesse no bolso, para nos livrar do tédio, alguma minitelevisão portátil, sei lá! Agora que o temos, nunca mais teremos tédio, temos ansiedade coletiva.

Estou vendo aqui algumas propagandas de notebooks dos anos 90, 2000, 2010… Não me recordo de como era a usabilidade (deveria ser péssima!), mas lembro de como cada minuto em frente ao computador era precioso e deveria ser aproveitado ao máximo, até que algum parente fosse lhe tirar dali para abrir alguma sala de bate-papo ou fazer uma vídeo-chamada a mais pixelada possível.

A tecnologia eletrônica era divertida. Não era o protagonista de nossos dias, como o é hoje; era um convidado ― por isso era legal conviver com ela. Estaríamos com ela pela manhã, e talvez não a veríamos mais pela noite. Hoje a tela está estampado em todos os lugares, é a topmodel, é sobre quem mais se fala.

Acho que parte da estratégia de tentar tornar a tecnologia divertida passa pela ideia de torná-la um evento no cotidiano analógico: a hora de abrir o feed, a hora de ouvir um podcast, a hora de ler um livro digital. É o que tenho tentado fazer.

E você, o que tem feito para tornar a tecnologia divertida de novo?

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  • Nelson Sant'Ana@bertha.social
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    6 days ago

    @arlon @batepapo Pra mim, mudou muito quando entrei no fediverso e quando passei a querer “produzir” conteúdo. Uma mera postagem me tira da zona de consumidor.

    Acho que a internet é interessante e divertida quando criamos e fazemos parte de criações coletivas.

    • Arlon@social.harpia.redOP
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      6 days ago

      @[email protected] @[email protected]

      Pra mim, mudou muito quando entrei no fediverso e quando passei a querer “produzir” conteúdo.

      Mesma coisa comigo. Entrei no Jefferson, já comecei a me interessar por blogue, curadoria e compartilhamento de informações, internet artesanal etc. Enquanto estive em redes sociais comerciais, sim, eu produzia, mas na maior parte do tempo eu era um mero receptor.

      Nota lateral: nunca curti muito essas expressões “produzir/consumir conteúdo”, nenhuma dessas palavras para ser sincero, mas não sei o porquê dessa ojeriza irracional; também não sei por quais palavras eu poderia trocar.

      • Nelson Sant'Ana@bertha.social
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        6 days ago

        @arlon @batepapo É estranho mesmo. No offline, nós pintamos, aqui, produzimos pinturas. Lá, escutamos música, aqui, consumimos. Lá, escrevemos e aqui produzimos textos.

        Acho que deve existir uma diferença poética entre agir e produzir o ato. Mas não consigo expressar agora como seria isso.

  • Euzinha@ayom.media
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    6 days ago

    @arlon @batepapo Uma coisa que tenho feito é sempre ouvir um áudio livro no celular enquanto pinto. Tira um pouco do estresse de sentar para trabalhar e ao mesmo tempo cria espectativa.

    Outra coisa não relacionada especificamente a celular, mas a consumo de mídia: assistir apenas um episódio de determinada série por dia. Não importa quanto tempo tenho disponível, só posso assistir um.

    • Arlon@social.harpia.redOP
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      6 days ago

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      ouvir um áudio livro no celular enquanto pinto

      Sabe que isso tem sido uma tendência? Ouvi no programa do antropólogo Michel Alcoforado na rádio CBN que a geração mais nova está ouvindo mais áudio (rádio, podcast, áudio-livro) como uma forma de fugir das redes sociais. Graças a Deus descobri isso muito cedo, quando estava sem internet aqui em casa e passei a ouvir rádio para me manter informado enquanto não achava um bom pacote.

      assistir apenas um episódio de determinada série por dia.

      Same here. Ainda fui mais radical e passei a assistir algumas séries só uma vez na semana. Até porque foi nesse ritmo que algumas delas foram concebidas, né?

      • Tiago F@bolha.us
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        6 days ago

        @arlon @uma_mocinha @batepapo pra mim o áudio tem funcionado pra fins de aprendizagem. Baixo palestras em áudio e escuto durante minha corrida diária.

        Até sugeri que criássemos de Áudio teses e dissertações, talvez fazer áudios de artigos científicos.

        Tem um elemento ruim de performance e otimização do tempo, mas parece menos pior que vídeos, principalmente os conteúdos aligeirados da internet.

  • Diego :mastodon:@bolha.us
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    7 days ago

    @arlon @batepapo

    Os notebooks dos anos 1990 e 2000 eram precários: precisavam das famigeradas placas PCMCIA para conectar à linha telefônica ou à rede. Nos anos 2000 / início dos 2010 melhorou.

    Sobre a ansiedade coletiva:

    1. Acredito que seja por conta da mudança, sem um tempo de amadurecimento no Brasil, da conexão discada para ADSL. Saltamos de um cenário em que a conexão era realizada apenas depois da meia-noite ou aos finais de semana para uma mais rápida e disponível 24 horas por dia. Conectar-se à internet não é mais um “evento”.

    2. Os smartphones trouxeram a portabilidade unida à conectividade sem fio, que tirou aquele ritual de ligar o PC (o celular está sempre ligado), sentado numa cadeira e mais concentrado na navegação, bate-papo e discussões em fóruns. Agora, se faz isso enquanto se divide a atenção com outras tarefas. Da mesma forma, houve uma “appzação”, que nivelou a todos com perfis dentro de redes engessadas ao invés de fomentar a criatividade e a experimentação dos blogs.

    Acho que temos que retomar esses “rituais” como a “hora de…” que foram perdidos ou reduzidos. Para isso: maior controle sobre o hardware e software (complicado no caso dos smartphones).

    • Arlon@social.harpia.redOP
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      6 days ago

      @[email protected] @[email protected]

      maior controle sobre o hardware e software (complicado no caso dos smartphones).

      Já nem aposto mais nos telefones… Peguei um telefoninho de 200 reais com 5 polegadas e o transformei em dumbphone, fazendo um hardening ao ponto até de tirar as cores ― tanto para economizar a bateria como para torná-lo menos atraente. Só o uso para mandar mensagens, ouvir música, ouvir podcasts, eventualmente usar o mapa. Tenho utilizado redes sociais e visto vídeos só pelo computador. Ambos os aparelhos tornaram-se mais atraentes depois desse regime.

      Bem, de certa forma procurei ter mais controle sobre o telefone, mas dentro de limites muito bem estabelecidos. Queria mesmo era entrar no mundo das custom ROM, mas isso requer um letramento que em cinco anos de Linux não tive ainda…

      • Andre@bertha.social
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        6 days ago

        @arlon @diegopds @batepapo nessa lógica de hardware, meu desejo de consumo atual é um celular com tela e-ink, também pra reduzir várias coisas no celular.
        Ainda uso redes sociais, cada vez mais no fediverso e menos nas big techs.
        Mas meu celular atualmente é pra ouvir podcast, ler e-book quando não tenho livro físico ou o Kindle por perto e manter contatos pessoais. (Ainda jogo um joguinho com geo localização, mas estou com um objetivo final pra ver se paro).
        Mas acho que tenho uma boa relação

  • Daemon Silverstein@thelemmy.club
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    6 days ago

    Eu já tenho uma visão meio (meio? acho que inteiramente, mesmo) pessimista.

    Já fui um grande aficionado pela tecnologia. Tive uma carreira profissional de 10 anos atuando como programador. Na realidade, comecei a lidar com programação desde os meus 8 anos de idade, quando ganhei meu primeiro computador. Aos 18 comecei a trabalhar já no ramo. Meu mais recente emprego durou do início de 2019 até cerca de seis meses atrás.

    Ao longo desse percurso, pude acompanhar quase que diariamente, de forma técnica, o rumo que a tecnologia tomou.

    Como você disse, antes a tecnologia era um complemento, era algo útil, era algo que trazia benefícios. Era algo realmente prazeroso e divertido. Peguei a época do Orkut, do Windows XP, do MSN, da internet discada e depois do ADSL. Foi divertido.

    Hoje, no entanto, eu vejo o quão “bleak” e distópica se tornou a realidade, onde, por exemplo, todo mundo é praticamente obrigado a ter celular. Hoje, sair sem celular é como sair sem um documento de identidade. Literalmente, em algumas situações (CNH digital, RG/CPF/não-lembro-a-outra-sigla digital).

    Como se não bastasse a obrigação de ter que usar um celular, não há escolha além de Android e iOS. Sim, tem o GrapheneOS e outras alternativas por aí, mas isso é pra quem sabe e tem coragem pra instalar sob risco de brickar o aparelho que não foi nada barato pra comprar (e sem contar que vai invalidar a garantia de fábrica/loja). Ao brasileiro humilde, no geral, a única opção é Android, já que o iOS tende a ser obscenamente caro. Android esse feito e mantido pela Google, que acaba sabendo mais da nossa vida do que nós mesmos.

    Saindo da minha digressão, como tornar a tecnologia divertida de novo? Bom, não acho que seja possível tornar a tecnologia atual divertida, porque naturalmente está conectada a espionagem e obrigatoriedade de usá-la. Agora, restaurar tecnologias antigas, por exemplo, restaurar algum 386, um Commodore 64, um ZX Spectrum, pra programar em BASIC e Fortran ou jogar aqueles jogos antigos, será divertido porque trará a nostalgia da época onde a tecnologia tinha sua simplicidade. Ou então, usar tecnologias relativamente atuais como Raspberry PI (até à 4ª versão) ou Orange Pi para mexer com eletrônica ou criar fliperamas, também pode ser divertido. Porque, infelizmente, a tendência da tecnologia “moderna” é ser cada vez mais intrusiva em nossas vidas.