Os historiadores Intelectuais escrevem frequentemente como se todas as ideias importantes numa determinada época pudessem ser atribuídas a um ou outro indivíduo extraordinário, seja Platão, Confúcio, Adam Smith ou Karl Marx - em vez de verem os escritos desses autores como intervenções particularmente brilhantes em debates que já estavam Contecendo em tavernas, jantares ou jardins públicos e grupos de leituras e debates, mas que de outra forma nunca teriam sido escritas. É como fingir que William Shakespeare de alguma forma inventou a língua inglesa. Na verdade, muitas das frases mais brilhantes de Shakespeare eram expressões comuns de sua época, que qualquer homem ou mulher elisabetano provavelmente teria incluído em uma conversa casual, e cujos autores permanecem tão obscuros quanto os da brincadeira de Knock-Knock. Mesmo que, se não fosse por Shakespeare, elas provavelmente já tivessem caído em desuso e sido esquecidas há muito tempo.

Fonte: The Dawn of Everything por David Greaber e David Wengrow.

  • ThorCroix@lemmy.eco.brOPM
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    11 months ago

    Outro trecho:

    …mesmo nos casos em que os pensadores do Iluminismo insistiram abertamente que estavam a obter as suas ideias de fontes estrangeiras (como fez o filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz quando instou aos seus compatriotas a adoptarem modelos chineses de política), há uma tendência para os historiadores contemporâneos insistirem que eles não estavam falando sério; ou então que quando eles disseram que estavam abraçando ideias chinesas, ou persas, ou indígenas americanas, essas não eram realmente ideias chinesas, persas ou indígenas americanas, mas sim ideias que eles próprios inventaram e meramente atribuíram a outros exóticos aleatórios.